terça-feira, 28 de setembro de 2010

Carta para um amigo

Lembra quando a gente achava
que mudaria o mundo ?


Caminhando sobre ruínas
entre estalo e poeira
Caminhando sob o sol
entre o inferno e a demência


Entre a busca e o desejo
nos restava o momento
Entre  a angústia e a vontade
sobrava o lamento


Entre andarilhos e manicômios
o medo não existia
Entre o paraiso e o caos
a luta prosseguia


Sobrevivendo como queira
assim foi aprendido
Esperando pelo nada
assim foi entendido


Dentre a relva e o cimento
em quem confiar
Dentre a água e o combústivel
o corpo a recuar


Sempre avante a proclamar
a liberdade desejar
Sempre por uma causa
o sonho sem pausa


Sem eira nem beira
sem partido ou oposição
Sem queixa ou deixa
sem palavra e opinião


Mas lembra quando a gente achava
que mudaria o mundo ?


Junior Core


domingo, 26 de setembro de 2010

Pesadelo de Icaro

Foi me dado toda ousadia do mundo
mundo imundo e abstrato
Toda forma se fez coerente
coerentemente foi me dado


Com facilidade pude aprender
aprender o inexplicável
Inexplicávelmente pude ver
o inexistente aprendizado


Sem querer perdoar e sofrer
fui perdoando meu sofrimento
Com amor e gratidão
se fez o mais nobre sentimento


Sem asas me vi perdido
sem alma me vi caindo
Meu sonho desmoronando
me vi só no precipicio


Junior Core


.

sábado, 25 de setembro de 2010

(...)

Fui o mais sincero que pude ser
como homem
Fui o maior revolucionário que lutou
como ativista



Fui um desbravador autêntico
como poeta
Fui aplaudido pela multidão
como prodigio



Mas de repente tudo ficou cinza
o tempo
Mas de repente o mundo mudou
o homem



Já não havia sinceridade em quem eu conhecia
em volta
Já não havia a mesma ideologia
em mente



Então resolvi dar cabo do problema
meu corpo
Então resolvi apagar a luz do fim do túnel
meu fim



Junior Core


Dedicado ao poeta, escritor e compositor Torquato Neto


Redenção

Oportuno o momento em querer justificar
o meu pecado mais obscuro
que guardei por tanto tempo
trancado a sete chaves


Retirar a culpa da consciência
a plenos pulmões
deve ser uma tarefa árdua
ao covarde que se fez santo


Santificado seja a sua hipocrisia
e abençoado seja a sua encenação
vamos tomar a hóstia de ópio
e batizar a sua redenção



Junior Core


Insônia

Na escuridão se faz o mais belo romance
entre a fresta de luz que entra no quarto
me surge as diversas imaginações



Escuto o barulho do motor do carro
que desce pela infinita rua
em busca da infinita estrada



Imagino o que outras pessoas estão fazendo
enquanto a escuridão banha a madrugada
Sem meias palavras, apenas o silêncio paira
sobre o corpo cansado que relaxa



Quantos himens foram rompidos ?
Quantos corpos se perdiam em puro prazer ?
Quantas mentiras estão sendo ditas ?
Quantos casamentos estão sendo desfeitos ?



A noite é mesmo misteriosa
e o silêncio é mesmo eloquente
As mesmas estrelas que brilham sobre a madrugada
são testemunhas de crimes perfeitos



Junior Core


Sobre a vida

A vida que me diga
o que não me prometia
eu só aprendia...



De tudo que sobrou
as marcas da vida levou
De toda ingenuidade
me restou a saudade



No tempo esquecido pela tinta
ficou as cicatrizes da vida
No relógio que resolveu parar
nada pude mudar...



E o vento que soprava
sobre as folhas caidas
eu apenas ouvia:



- O cantar dos passáros
- O bocejar da moça
- E o motor do avião



Mas a vida que me diga
alias ela não me prometia
eu apenas observava
sobre a mão que segurava uma faca

Era o fim pra mim..
.



Junior Core



O Chacal

Menino forte de olhar voraz,
menino esguio de pele parda
Menino decidido como homem,
homem ingênuo como menino


Homem em busca da identidade,
homem feito um adolescente
Homem lúdico a brincar,
e menino querendo o castigar


Menino homem agora é um só,
menino homem pensa melhor
Menino homem agora quer uma chance,
menino homem agora se viu só


Menino homem agora quer carne,
menino homem quer derramar sangue
Menino homem está pronto pra guerra,
Mas o mundo não está preparado para o menino homem



Junior Core





.

Alma morta

Do escuro talvez
do escuro interno
posso sentir a rejeição
a rejeição do mundo contudo


Do inferno talvez
do inferno interno
cabe o calor do meu sangue
calor que aquece a continuidade de mais um dia


Do medo talvez
do medo do pensamento
que atrai a ânsia do querer
a ânsia do que nem sei se existe


A angústia talvez
a angústia do que vejo
em pleno monumento
monumento concreto ao que vejo


Da culpa talvez
da culpa do que deixei
escapar quando tive a chance
escapar quando tive em mãos


Do egoísmo talvez
egoísmo que cegou
meus olhos lúdicos
que continuou lúdico por um bom tempo


Da mentira talvez
mentira que aceitei
como verdade verdadeira
como verdade e ficção


Da alma talvez,
da morte talvez...


Alma, morte
morte, alma...

Talvez, talvez...


Junior Core