terça-feira, 3 de setembro de 2013

Velório

Lá vem chegando o carro funerário
trazendo o teu corpo congelado
Por um momento me fez lembrar
você chegando em casa depois do trabalho
e eu correndo para abrir o portão da garagem
Sempre com um olhar de cansaço
pensamento muito distante
nunca tinha tempo para mim

Lembro de você sempre reclamando
que nenhum dos seus amigos vinham te visitar
que achava que todos tinham te esquecido
Mas veja agora quanta gente ao seu redor
quantos amigos que você não via a anos
Quantos olhares de misericórdia e perdão
estão direcionados apenas pra você
Agora você é o centro das atenções

Esse algodão enfiado no seu nariz
me fez lembrar a minha infância
enquanto a mãe tirava o esmalte da unha
e você reclamando das contas que tinha que pagar
Sempre com um copo de conhaque em mãos
em pequenos goles que pareciam ser eternos
Rosto envelhecido e marcado pelo tempo
que cada ano lhe castigava mais

Mas agora já não tem mais contas para pagar
Já não tem mais o copo de conhaque em mãos
o rosto parou de envelhecer junto com o tempo
preocupações foram deixados para trás
Todo aborrecimento e insatisfação desapareceu
toda culpa e remorso foram perdoados

Esse monte de velas ao seu redor
me fez lembrar quando faltava luz
Você desesperado procurando por uma vela
no meio do escuro, enquanto eu brincava
fazendo imagens de bichos com a sombra das minhas mãos
E depois a gente jantando a luz de velas

Essa cova no qual você vai ser enterrado
me veio a imagem de você cavando-a
E aquela vez que procurava o cano que havia estourado
fazendo vários buracos no chão do quintal
Enquanto eu te ajudava a fazer o cimento
para cobrir todo estrago que você havia feito

Agora todos começam a ir embora
Rosas são arremessadas feito granadas
cada rosa que caia, sentia a dor do impacto
Me fez lembrar você plantando com todo cuidado no jardim
eu sempre te ajudando e observando
E agora os seus amigos vão embora se lamentando

Junior Core